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  >  Lifestyle   >  Capacitismo: dicas sobre o que não fazer
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Você já ouviu falar de capacitismo? A expressão, até pouco tempo atrás não tão conhecida, quer dizer a discriminação com pessoas que possuem algum tipo de deficiência. E aqui eu não falo apenas do preconceito mais explícito. Falo também de maneiras mais veladas, mais sutis, porém igualmente dolorosas para quem é alvo do capacitismo.

Capacitismo: o que é?

O capacitismo vem da ideia de que as pessoas com algum tipo de deficiência possuem algum problema, um defeito a ser corrigido.

O capacitismo não considera a pluralidade da existência humana. Não considera nossa diversidade, entendendo que cada ser humano é único e carrega um conjunto singular de características. 

Além disso, o capacitismo se caracteriza também pela necessidade de excluir todas as pessoas que não se encaixam em determinado padrão considerado ideal, assim como também é a base de tantos outros preconceitos. 

Exclusão social

Pessoas com deficiência experimentam todos os dias diversas maneiras de exclusão.

Como falei no início, das mais óbvias e explícitas às mais sutis. Entre elas, a falta de acessibilidade na maioria das cidades: faltam rampas de acesso para cadeirantes e quem tem deficiência visual encontra extrema dificuldade para caminhar nas calçadas mal conservadas, isso para dar exemplos mais comuns. 

Além disso, há poucas opções de programação cultural em LIBRAS, por exemplo, para quem tem deficiência auditiva e é alfabetizado na língua.

Ônibus e táxis acessíveis, então, são raros, mesmo nos grandes centros urbanos e quando são, infelizmente, motoristas e cobradores, muitas vezes, não sabem como manusear o equipamento para embarque e desembarque do cadeirante.

Muitos não sabem também nem mesmo para que servem os cintos de segurança para prender a cadeira de rodas nos ônibus, ou agem de maneira displicente não prendendo a cadeira de rodas devidamente, o que pode causar um acidente.

Sem contar a falta de políticas públicas direcionadas especificamente para essa parcela da população. Além de tudo isso, somos vítimas do preconceito por parte das pessoas sem deficiência, o chamado capacitismo. 

Como?

Quer ver um exemplo bem comum?

Alguém vê um cadeirante ou alguém com deficiência visual, por exemplo, em uma festa, no cinema, no shopping, enfim, qualquer lugar de convivência. E essa pessoa sem nenhuma deficiência aparente vai lá e parabeniza a pessoa com deficiência. E ainda sai toda feliz, com aquela sensação gostosa que a gente tem quando faz o bem.

Agora, eu pergunto: parabéns pelo quê, exatamente? Alguém deve ser parabenizado simplesmente por estar vivendo sua vida? Ou por estar fazendo algo que, “teoricamente”, só pessoas sem nenhuma deficiência podem fazer? 

A ideia por trás dos “parabéns” às pessoas com deficiência é que, a verdade, o lugar delas é dentro de casa.

Quer dizer que sair é uma ousadia, uma coisa muito corajosa a se fazer.

Ainda que seja com a melhor das intenções, dar parabéns a uma pessoa que está apenas fazendo algo comum, que qualquer pessoa pode fazer, é um clássico exemplo de capacitismo. 

É uma situação bem parecida quando alguém cita uma pessoa com deficiência como um “exemplo de superação”.

– Cuidado com os termos:

Não se pode reduzir a existência de uma pessoa a um exemplo para as outras ou afirmar que uma pessoa é um exemplo de superação  “apenas” pelo fato dela ter algum tipo de deficiência, sem conhecer a história de vida dessa pessoa, o que ela REALMENTE superou, suas conquistas pessoais, etc.

Garanto a você que tem muita gente com deficiência que não superou a deficiência, que se coloca em uma posição de vítima, que utiliza sua deficiência e essa linha de “exemplo de superação pelo fato apenas de ter uma deficiência” de maneira distorcida, para se autopromover, fazendo assim um desserviço para a militância que tanto luta contra esse tipo de estereótipo.

Volto a dizer: somos apenas pessoas trabalhando, estudando, namorando, festejando, vivendo. Se você faz isso, repense sua atitude. 

Olha só, gente, repito, não tô dizendo aqui que alguém faça isso por maldade. Infelizmente essas atitudes estão tão enraizadas na nossa cultura, que muitas vezes somos capacitistas sem nem perceber. 

O mercado de trabalho 

Mais um exemplo bem comum: a pessoa com deficiência e o mercado de trabalho.

Pode ser que a exclusão comece já no processo seletivo. Vocês já devem saber que existe uma lei que estabelece cotas para pessoas com deficiência nas empresas, a Lei 8.213, de 1991.

Muitas empresas contratam pessoas com deficiência com a única finalidade de não sofrer penalidades pelo não cumprimento da lei.

Assim, muitas vezes alocam esses profissionais em cargos cujas atribuições estão muito aquém de suas qualificações. Naturalmente, isso deixa essas pessoas frustradas e desmotivadas. 

As pessoas com deficiência estão nas universidades, nos cursos livres e nos estágios, estudando, se aperfeiçoando, construindo suas carreiras.

Então, é óbvio que elas devem ser alocadas em funções de acordo com sua formação e suas habilidades. 

Mas o profissional com deficiência ainda passa por outras agruras em seu local de trabalho: pode ser que ele seja tratado como coitadinho.

Ou seja, realiza apenas as  tarefas mais básicas ou sem importância. Mas, obviamente, não por falta de competência, mas porque os gestores não delegam as tarefas mais importantes, para “poupá-los” ou mesmo por julgar que não são capazes.

Super-heróis?

Outra situação bastante comum é que os profissionais com deficiência sejam vistos como super-heróis. Trabalham muito, têm um ótimo desempenho na empresa, mas não conseguem chegar a cargos mais altos na hierarquia. Essa é outra face bem cruel do capacitismo: de uma maneira ou de outra, impedir que as pessoas com deficiência se desenvolvam profissionalmente e alcancem suas potencialidades máximas.

Nas duas situações, seja quando o profissional é tido como coitadinho, ou o outro lado, como super-herói, essa pessoa é reduzida à sua deficiência. Não faz o menor sentido definir uma pessoa a uma única característica. Uma pessoa é um universo, com todos os seus sonhos, características, desejos, experiências, enfim, tudo que forma a sua personalidade. 

Conclusão

Quis com esse texto chamar sua atenção para o assunto. Ainda temos muito o que fazer no que diz respeito aos direitos mais básicos das pessoas com deficiência. Porém, essas discussão se faz mais do que necessária. A inclusão verdadeira começa ao ver cada pessoa como única, mas também perceber que somos todos iguais em direitos e responsabilidades. Criei um e-book onde compartilho mais dicas sobre acessibilidade e inclusão para empresas e profissionais que queiram tornar seus serviços mais acessíveis. Acesse o e-book clicando aqui!

Para saber sobre minhas experiências em viagens, você pode acessar: http://bit.ly/Evento_MulheresViajantes 

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