Perguntas mais frequentes
Como você se tornou uma pessoa com deficiência? 🌍
Tenho uma doença degenerativa na musculatura chamada distrofia muscular do tipo FSH.
Os sintomas surgiram por volta dos 9 anos.
Passei a usar cadeira de rodas para me locomover aos 23 anos.
A cadeira de rodas se tornou uma aliada na minha jornada, pois ela me permite ir a lugares que não seria possível sem ela.
Como pessoa com deficiência, são mais de 26 anos convivendo com os desafios de ir perdendo a mobilidade. E na minha vida profissional, são mais de 15 anos de experiência, entre empresa pública e privada.
Venho motivando pessoas através de palestras e conteúdos na internet desde 2015 e já palestrei em mais de 30 eventos.
Criadora do projeto de turismo acessível viaje com acessibilidade, acredito que a conscientização é um dos caminhos para diminuir o preconceito e capacitismo que ainda impera na sociedade.
Quando surgiu seu amor por viagens? Desde quando deseja viajar e o que te leva a querer conhecer novos lugares e culturas? 🌍
Desde pequena. Minha mãe conta histórias de quando íamos à praia, eu devia ter uns 2/3 anos, e eu já era encantada pelo mar!
O tempo foi passando, nos mudamos e moramos um tempo em uma cidade pequena na Bahia, onde eu pude vivenciar uma infância bem perto da natureza e toda sua beleza.
Mas a oportunidade de viajar mais veio quando adulta, principalmente após minha habilitação, em 2009.
Dirigir se tornou uma das minhas maiores paixões e juntamente com ela a paixão pelas viagens.
A sensação de liberdade e independência é o que me faz a cada dia querer mais conhecer novos lugares, novas pessoas, culturas e explorar sempre possibilidades!
O que viajar representa para você? Quais os benefícios que uma viagem proporciona? 🤔
Liberdade, independência, autonomia, possibilidades. Viajar é um ato de amor tanto para quem se permite experienciá-lo quanto para as pessoas que convivem com essa pessoa, pois traz qualidade de vida, bem estar, autoconhecimento.
Os benefícios vão para além do que se pode descrever. É necessário viver essa experiência.
O que você considera turismo acessível? 🤔
Locais / destinos ou serviços dedicados ao atendimento ou recepção de qualquer pessoa que esteja em deslocamento durante um determinado período com fins de lazer, bem estar, trabalho, entre outros.
Importante observarmos que o turismo ou viagem acessível é um processo em constante evolução, tanto no Brasil quanto no exterior, uma vez que os direitos e discussões sobre a inclusão das pessoas com deficiência são relativamente recentes na história mundial. Ou seja: o turismo acessível precisa da dedicação contínua de todos os envolvidos no setor (fornecedores, gestores, colaboradores, etc).
Pra quem é o Turismo Acessível?? 🤔
O turismo acessível é para todas as pessoas, uma vez que a acessibilidade é baseada em 3 pilares fundamentais para todo ser humano:
- autonomia: condições de acesso com independência;
- conforto: condições de acesso com o mínimo esforço necessário;
- segurança: condições de acesso com o máximo de segurança.
Isso significa que os locais, produtos, serviços, ao se tornarem acessíveis, estão aptos a atender, receber qualquer pessoa, independente da sua particularidade ou necessidade.
Assim, toda a sociedade se beneficia da acessibilidade (e consequentemente do turismo acessível), seja a pessoa idosa que tem um comprometimento motor ou sensorial, seja uma mulher gestante, seja uma pessoa obesa, uma família com criança de colo (carrinho de bebê), seja qualquer pessoa com mobilidade reduzida temporária, etc.
VOCÊ Acha que há uma preocupação maior para adaptação ou ainda falta muito para que as pessoas com deficiência possam ter autonomia e liberdade de viajar pelo mundo? 📷
Apesar de observarmos um tímido avanço, temos muito espaço para a implantação e expansão de um turismo que seja para todos. Acredito que a partir do momento que o turismo acessível passe a ser considerado como oportunidade de negócios (no sentido amplo da palavra, para além de uma “obrigação”), aí teremos uma considerável expansão neste setor.
Existe alguma lei que exige que agências, hospedagem, etc tenham acessibilidade? 📷
Sim,
No Brasil, temos algumas leis e decretos que visam garantir os direitos das pessoas com deficiência. Em se tratando de acesso a serviços (hospedagens, restaurantes, e demais equipamentos do setor turístico), podemos destacar:
– Lei Federal 10.048/2000 e Lei Federal 10.098/2000 = Dispõem sobre o Atendimento prioritário e eliminação das barreiras físicas e atitudinais (atendimento / serviço);
– Decreto 5296/2004 – Artigo 11 = Visa garantir acesso às edificações de uso comum (espaços, salas, ou elementos externos ou internos que são disponibilizados para o público em geral e pode ocorrer em edificações ou equipamentos de propriedade pública ou privada. LF 10.098/2000).
Ainda podemos citar:
- A norma técnica (NBR) 9050 /2015, a qual traz as instruções sobre COMO adaptar os espaços, no ITEM 8.3.1.1 diz que a porcentagem minima de 5% dos dormitórios com sanitário devem ser acessíveis e mais outros 10% do total de dormitórios com condições de adaptabilidade.
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- A LBI (Lei Brasileira da Inclusão) LF 13146/2015 – em seus artigos:
– ARTIGO 3 . Vem reforçar sobre os direitos ao atendimento igual perante a lei, O princípio da acessibilidade determina que as concepções de todos os espaços e formatos, de produtos e serviços devam permitir que os cidadãos com deficiência possam ser seus usuários legítimos e dignos. Como princípio, a acessibilidade constitui-se em verdadeira espinha dorsal, na medida em que perpassa e/ou complementa todos os outros princípios e direitos, impondo sua observância como máxima para toda a sua aplicação.
Sendo um direito fundamental outras normas dela deverão advir e ainda funciona como garantia ou ponte para o exercício de outros direitos. As pessoas com deficiência são titulares diretos do direito à acessibilidade como um direito humano que assegura o gozo e o exercício dos demais;
– ARTIGO 45 = Afirma que Hotéis, pousadas, e similares devem ser construídos observando-se os princípios do desenho universal (autonomia, conforto, segurança), além de adotar todos os meios de acessibilidade conforme legislação em vigor (DF 5296/2004 / NBR 9050/2015);
- Ainda temos a Lei Federal 10741/2003 – a qual se destina a assegurar os direitos das pessoas idosas (Estatuto do Idoso).
Podemos observar que o Brasil tem uma série de leis voltadas para a inclusão da pessoa com deficiência, a qual ocorre através da acessibilidade.
Uma das maiores dificuldades, porém, é o cumprimento das mesmas, uma vez que os órgãos fiscalizadores muitas vezes não “conseguem” realizar essa fiscalização efetivamente.
Com o seu trabalho no “Viaje com Acessibilidade”, o que observa como sendo o maior desafio para pessoas com deficiência na hora de viajar (transporte, hospedagem, estrutura do destino…)?
Para mim um dos maiores desafios hoje ainda é encontrar informações sobre a acessibilidade (ou a falta de…) dos locais/ destinos/ pousadas/serviços.
Quais as vantagens que essas empresas possuem ao oferecer um serviço acessível?
Existem várias, entre elas, as seguintes:
- Econômica = atendimento a uma grande parcela da população com recursos financeiros . Em 2018, o número de PcD com carteira assinada (trabalho formal) foi de 486.000. Se cada uma delas consumisse 1 cesta básica (no mínimo) por mês o impacto econômico seria de 218 milhões de reais. Isso sem considerarmos famílias com crianças abaixo de 5 anos e idosos.
Nesta questão ainda entra o não pagamento de multas ou processos por não estar em acordo com a lei, a qual exige acessibilidade arquitetônica e de atendimento à todas as pessoas. - Social = as empresas, independente do tamanho, possuem responsabilidade social. Incluir é uma maneira de impactar positivamente a sociedade.
- Sustentável = a acessibilidade faz parte dos pilares da sustentabilidade. A sustentabilidade visa o negócio não apenas hoje, mas também a médio e longo prazo.
Significa maximizar recursos e oportunidades. Considerando ainda uma população mundial que tem aumentado sua longevidade, estar preparado para receber e atender pessoas idosas, as quais também se beneficiam da acessibilidade, é ter visão estratégica e entender a acessibilidade não como custo apenas mas como investimento.
- Competitiva = Vivemos em um mundo que opera através da economia. Fato!
E estar à frente nos negócios demanda também a capacidade de “pensar fora da caixa” , ir além das obrigações ou exigências de órgãos públicos ou reguladores. Significa se abrir para a inovação e acessibilidade significa inovar.
Quais são os principais pontos de infraestrutura para um lugar ser considerado acessível?
– Acesso livre de barreiras;
– Rota acessível;
– Sanitário acessível;
– Sinalização visual e tátil acessível;
– Vagas de estacionamento – na proporção mínima de 2% para pessoa com deficiência e 5% para idosos;
– Mobiliário e balcão acessível;
– Calçada;
– Elevadores.
Turismo em destinos ou locais considerados patrimônios históricos são um dos inúmeros desafios para a pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida. Nestes casos, como fica? Tem lei que protege a acessibilidade ou uma lei maior impede a adaptação destes locais?
Nestes casos, A Lei Brasileira de Inclusão (LBI 13.146 /2015), em seu Artigo 42 , traz as seguintes informações:
A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso:
I – a bens culturais em formato acessível;
II -a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades culturais e desportivas em formato acessível; e
III – a monumentos e locais de importância cultural e a espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e esportivos.
- inciso 2° – O poder público deve adotar soluções destinadas à eliminação, à redução ou à superação de barreiras para a promoção do acesso a todo patrimônio cultural, observadas as normas de acessibilidade, ambientais e de proteção do patrimônio histórico e artístico nacional IN – IPHAN – N1 – De acordo com as caracteristicas de cada bem – nivel de tombamento etc.
- O Decreto Federal 5.296/2004 em seu Artigo 30 diz que as soluções destinadas à eliminação, redução ou superação de barreiras na promoção da acessibilidade a todos os bens culturais imóveis devem estar de acordo com o que estabelece a Instrução Normativa no 1 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, de 25 de novembro de 2003.
Assim, o direito de acesso da pessoa com deficiência em condições de igualdade às demais aos espaços culturais, entre outros, deve ser garantido, mesmo em locais considerados patrimônio histórico.
O planejamento é uma etapa muito importante em todas as viagens. Você acha que esse é um aspecto ainda mais relevante quando é preciso verificar questões de acessibilidade? 💸
Sem dúvidas…todo detalhe para nós é de suma importância, inclusive essa é uma das etapas que compõe os projetos de adequação para atendimento dos clientes com deficiência: mapeamento da acessibilidade.
Como atender com excelência um cliente (seja ele uma pessoa com ou sem deficiência) se não se sabe o que o local dispõe?
O ideal é estar totalmente adequado, de acordo com as normas técnicas internacionais..mas até chegarmos ao ideal, precisamos saber onde estamos. Como dizia um gerente com o qual trabalhei: sem métricas (dados) não podemos medir resultados nem estabelecermos estratégias de melhorias…
Que dicas você costuma dar para pessoas com deficiência se prepararem para viagens? 💸
Uma das dicas principais é se conhecer. Isso já facilita muito o processo, por que você saberá suas preferências e baseado nisso planeja sua viagem.
Se faça perguntas como:
- eu prefiro clima quente ou ameno?
- me importo com chuva / neve ou não?
- prefiro praia, montanha ou região mais urbana?
E assim você vai eliminando ou acrescentando possibilidades…mas claro, existem outras dicas para essa preparação.
Aqui eu me aprofundei neste tema, caso você queira explorar mais dicas!
Ah! E aqui você conhece meu outro projeto, voltado ao empoderamento pessoal, o qual engloba o autoconhecimento.
Como é o transporte aéreo no caso de cadeirantes? Quais equipamentos um cadeirante deve levar na sua viagem? É preciso avisar a cia aérea com antecedência?
Geralmente, é necessário avisar a Cia aérea com no mínimo 48 horas de antecedência do vôo, e de preferência registrar esse contato (e_mail) caso ocorra algum problema durante o transporte na sua cadeira de rodas.
Eu explico mais (com detalhes) no vídeo abaixo sobre transporte aéreo de cadeirantes.